Alfred Hitchcock me persegue.

Eu era bem pequena, não me lembro quantos anos tinha, apenas recordo que minha tia me levou para a praça central da pequena cidade onde eu morava. Era noite, e isso ficou muito gravado em minha mente por dois motivos: primeiro, por ser criança, minha mãe não permitia que eu saísse durante a noite, minha vida era a tv - sou de uma geração que cresceu na década de 1980 com uma babá eletrônica, a televisão. Segundo, porque, lembro como se fosse hoje, um cinema itinerante estava passando pela cidade e se alojou na praça. Existia um lençol enorme que fazia as vezes da telona, e muitas pessoas, em pé ou sentadas no chão (e até mesmo nas bicicletas - recordo especialmente de um senhor que estava sentado no selim de uma bicicleta barra circular vermelha, que ficava com um pé em um pedal e outro no chão, e assim passou boa parte do filme) estavam esperando o evento.
De repente, começa. Eu fiquei vidrada, fascinada. Fui fisgada. O filme era Psicose, de Alfred Hitchcock, em preto-branco. Achei esquisito no início, estranho mesmo, tão acostumada que eu era com o colorido da tv. Passei boa parte do filme olhando para a grama, porque sentia medo. Mas não me recordo de uma sensação tão boa como aquela. Fiquei sozinha por muito tempo assistindo, não sei onde minha tia estava, tão pouco me lembro se ela estava do meu lado - realmente eu a apaguei da minha mente. Sei bem que eu assisti boa parte do filme, inclusive a famosa cena do chuveiro, mas não fiquei até o fim, porque ela chegou e me levou pra casa. E eu passei a noite pensando naquela minha pseudo-aventura.
Naquela época, pelo menos não que eu me lembre, os pais não eram tão rígidos com relação à censura do que víamos. Eu assistia tudo. Na sessão da tarde, Lagoa Azul chamava minha atenção pela história e pelas cenas pouco convencionais de nudez. Mas o que eu adorava, e confesso que até hoje adoro, tenho até o DVD especial para colecionadores, era Curtindo a vida adoidado, com meu herói pós-moderno, Ferris Buller, o sujeito que traduz o ideal dos dias atuais, da sociedade do prazer.
Mas, por mais que eu gostasse de assistir filmes na tv, nenhum deles foi tão impactante como Psicose. Acho que foram por vários aspectos, que naquele momento eu não entendia, mas que hoje eu tento compreender. Primeiro, foi a sensação de estar com várias pessoas assistindo um filme, e ao mesmo tempo, aquela tela era tão grande, que parecia que eu estava sozinha - tão sozinha que eu nem me lembro da minha tia - na verdade, parecia que eu estava junto com os personagens, sentada na parte de dentro da tela, em um cantinho onde os atores não podiam me ver, mas eu os via de forma privilegiada. Segundo, porque sempre que eu resolvia "sair da tela", ou melhor, quando eu ficava com medo e começava a olhar a grama, eu repentinamente, olhava para os lados e via as expressões nos rostos das pessoas, e pensava: ai, que bom que não sou só eu!
Dessa minha primeira experiência, eu guardo ainda essas mesmas sensações, e, até hoje, acho que é por isso que o cinema me impressionou e impressiona tanto.
Quando assito um filme, e quando gosto, é como se eu tivesse dentro da tela, junto com os atores, mesmo que eles não estejam me vendo, eu os vejo de forma privilegiada. E quando não gosto de um filme, sinto-me sentada na poltrona, é como se o meu mergulho na tela não tivesse se efetivado, e vez por outra me pego olhando para os cantos do quadrado que engloba os atores.
Outra coisa que me leva ao cinema com prazer é sentir a reação que o filme provoca em mim e que compartilho com outras pessoas. O riso coletivo é o melhor. Os sustos que nos levam a afundar na poltrona. As lágrimas e os suspiros que escutamos quando algo comovente acontece na tela (quero deixar bem claro que repudio com veemência àqueles que conversam durante o filme, que botam os pés nas poltronas da frente e que atendem celular, acho que esse tipo de comportamento é muito inapropriado, e mais, é desrespeitoso).
Enfim, por essas e outras, eu adoro cinema. Amo mesmo. Toda semana preciso assistir pelo menos um único filme.
Então é isso. Escrever sobre o que gosto.
abraço,
Lilu
De repente, começa. Eu fiquei vidrada, fascinada. Fui fisgada. O filme era Psicose, de Alfred Hitchcock, em preto-branco. Achei esquisito no início, estranho mesmo, tão acostumada que eu era com o colorido da tv. Passei boa parte do filme olhando para a grama, porque sentia medo. Mas não me recordo de uma sensação tão boa como aquela. Fiquei sozinha por muito tempo assistindo, não sei onde minha tia estava, tão pouco me lembro se ela estava do meu lado - realmente eu a apaguei da minha mente. Sei bem que eu assisti boa parte do filme, inclusive a famosa cena do chuveiro, mas não fiquei até o fim, porque ela chegou e me levou pra casa. E eu passei a noite pensando naquela minha pseudo-aventura.
Naquela época, pelo menos não que eu me lembre, os pais não eram tão rígidos com relação à censura do que víamos. Eu assistia tudo. Na sessão da tarde, Lagoa Azul chamava minha atenção pela história e pelas cenas pouco convencionais de nudez. Mas o que eu adorava, e confesso que até hoje adoro, tenho até o DVD especial para colecionadores, era Curtindo a vida adoidado, com meu herói pós-moderno, Ferris Buller, o sujeito que traduz o ideal dos dias atuais, da sociedade do prazer.
Mas, por mais que eu gostasse de assistir filmes na tv, nenhum deles foi tão impactante como Psicose. Acho que foram por vários aspectos, que naquele momento eu não entendia, mas que hoje eu tento compreender. Primeiro, foi a sensação de estar com várias pessoas assistindo um filme, e ao mesmo tempo, aquela tela era tão grande, que parecia que eu estava sozinha - tão sozinha que eu nem me lembro da minha tia - na verdade, parecia que eu estava junto com os personagens, sentada na parte de dentro da tela, em um cantinho onde os atores não podiam me ver, mas eu os via de forma privilegiada. Segundo, porque sempre que eu resolvia "sair da tela", ou melhor, quando eu ficava com medo e começava a olhar a grama, eu repentinamente, olhava para os lados e via as expressões nos rostos das pessoas, e pensava: ai, que bom que não sou só eu!
Dessa minha primeira experiência, eu guardo ainda essas mesmas sensações, e, até hoje, acho que é por isso que o cinema me impressionou e impressiona tanto.
Quando assito um filme, e quando gosto, é como se eu tivesse dentro da tela, junto com os atores, mesmo que eles não estejam me vendo, eu os vejo de forma privilegiada. E quando não gosto de um filme, sinto-me sentada na poltrona, é como se o meu mergulho na tela não tivesse se efetivado, e vez por outra me pego olhando para os cantos do quadrado que engloba os atores.
Outra coisa que me leva ao cinema com prazer é sentir a reação que o filme provoca em mim e que compartilho com outras pessoas. O riso coletivo é o melhor. Os sustos que nos levam a afundar na poltrona. As lágrimas e os suspiros que escutamos quando algo comovente acontece na tela (quero deixar bem claro que repudio com veemência àqueles que conversam durante o filme, que botam os pés nas poltronas da frente e que atendem celular, acho que esse tipo de comportamento é muito inapropriado, e mais, é desrespeitoso).
Enfim, por essas e outras, eu adoro cinema. Amo mesmo. Toda semana preciso assistir pelo menos um único filme.
Então é isso. Escrever sobre o que gosto.
abraço,
Lilu

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